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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

jornal extra


Favela pacificada no Equador recebeu choque empresarial e lucro subiu o morro

Guilherme Amado - Enviado especial do Extra
Lanchonete do Cerro Santa Ana. Foto: Guilherme AmadoA comerciante Victoria Mendez Bazan mora há três anos no Cerro Santa Ana, a favela de Guayaquil, no Equador, que se tornou atração turística ao ser pacificada e urbanizada, em 2001. Aos 28 anos e mãe de duas filhas - uma de 2 e outra de 13 anos -, a sorridente e falante Victoria casou-se cedo, começou a trabalhar na mesma época e, desde que se mudou para o morro, é uma das dezenas de moradores que possuem um negócio próprio. Esperta, tem o nome dos clientes na ponta da língua. Sabe conquistá-los. Entre a venda de um chiclete e um biscoito, fatura por volta de 200 dólares ao mês (cerca de R$ 340). É pouco diante do esforço, mas Victoria sempre cria alguma novidade para incrementar o lucro. Esta, aliás, foi a palavrinha mágica que, desde a pacificação, passou a fazer parte do vocabulário dos moradores do Cerro Santa Ana. E que, desde então, não para de ser repetida.
Após um rápido curso dado pela Câmara de Comércio da cidade, em 2001, a ousadia empreendedora se disseminou pela favela. Quase todos os moradores abrem uma portinha em casa para vender refrigerantes, biscoitos e outras guloseimas. O cliente quase nunca entra. É só chegar à janela, chamar o dono e pedir um dos vários - e coloridos - jugos (refrigerantes) equatorianos. Além das tradicionais coca-colas, de mil e uma marcas, vende-se refrigerantes rosas, laranjas, verdes e até azuis.
A comerciante Blanca Maria Basan Requené, sua filha Victoria Mendez Bazan e a filha dela, Charlotte Cabrera, três gerações de uma família do Cerro Santa Ana. Foto: Guilherme Amado
Rara é a loja feia no Cerro Santa Ana. Os grandes restaurantes, as boates e as lanchonetes são os que mais se destacam, mas até os pequenos negócios sabem investir no visual como apelo de venda.
- É interessante vir morar aqui porque os negócios são rentáveis - explica Victoria, que morava num morro que não foi pacificado.
Os impostos baixos são um incentivo para que os moradores explorem seus talentos empresariais. Entre o imposto predial, a taxa de bombeiro e uma permissão paga anualmente para atuar em área turística, investe-se, em média, 200 dólares (R$ 340) para abrir um pequeno negócio no Cerro Santa Ana. No Brasil, estabelecimentos do mesmo porte não são abertos por menos do que mil reais.
A segurança trazida pelos guardas também é uma grande aliada nos negócios. Dono de uma loja como a de Victoria, o comerciante Orlando Santana, de 59 anos, compara a situação após a pacificação:
- Tenho o bar há cerca de 15 anos. Agora, há mais confiança dos comerciantes e do público para subir o morro com tranquilidade.
Favela passou a ser cobiçada
O comerciante Orlando Santana, morador do Cerro Santa Ana. Foto: Guilherme Amado
No início do programa Regeneração Urbana, que revitalizou o Cerro Santa Ana e outros espaços públicos de Guayaquil, era permitido vender o imóvel reformado. Muitos moradores lucraram com a transação, que hipervalorizou os imóveis. A prática abriu brecha para que diversas casas aos pés do Cerro Santa Ana passassem às mãos de empresários e até de estrangeiros. Hoje coibida, a venda fez com que os pontos comerciais mais lucrativos deixassem de ser propriedade dos moradores da favela.
Professor da Universidad Católica de Guayaquil, o sociólogo Hector Chiriboga, um ferrenho crítico do programa Regeneração Urbana, não vê com bons olhos o excesso de empreendimentos:
- E se cada casa se converter numa lanchonete? Vendendo o mesmo que os vizinhos? O que se ganha só dá para a sobrevivência.

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