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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Liga Dos Campeões

23/11/2011 08h00 - Atualizado em 23/11/2011 10h43

Na legião brasileira do Shakhtar, até técnico fala português: 'Mais fácil'

Romeno Lucescu exige contratação de brasileiros e aprendeu idioma para facilitar a conversa. Equipe encara o Porto nesta quarta pela Champions

Por Igor Castello BrancoRio de Janeiro

O GLOBOESPORTE.COM transmite Milan x Barcelona ao vivo nesta quarta-feira às 17h45m (de Brasília)

Longe de fazer uma campanha extraordinária nesta edição da Liga dos Campeões, na qual é lanterna do Grupo G com apenas dois pontos em quatro rodadas, o Shakhtar Donetsk recebe o Porto nesta quarta-feira, às 17h45m (de Brasília). Há sete anos no comando do time ucraniano, o romeno Mircea Lucescu é o mentor da atual filosofia de trabalho do clube: contratar brasileiros no setor ofensivo. Admirador do estilo canarinho, o treinador gosta tanto do Brasil que até aprendeu a falar português. Ou melhor, “brasileiro”, idioma quase que obrigatório no elenco.

– Comecei a estudar “brasileiro” e depois a praticá-lo, afinal acho mais fácil colocar apenas uma pessoa para aprender uma língua do que colocar quase metade de um grupo de jogadores, algo em torno de 10 ou 12 brasileiros, para ter aula de russo, o que seria muito difícil. Agora, fica tudo mais fácil. Passo as instruções táticas, eles me entendem e consigo realizar o meu trabalho – disse Lucescu em "brasileiro" fluente, por telefone ao GLOBOESPORTE.COM.

Mircea Lucescu, técnico do Shaktar (Foto: Divulgação)Mircea Lucescu está no comando do Shakhtar há sete anos e fala português fluente (Foto: Divulgação)
Mircea Lucescu, técnico do Shaktar (Foto: Divulgação)Aos 25 anos, Mircea Lucescu disputava a Copa de 70,
no México, pela Romênia (Foto: Divulgação)

A relação de Lucescu com o Brasil começou muito antes da sua carreira de treinador. Em 1970, às vésperas da Copa do Mundo, um torneio de verão foi realizado no Rio de Janeiro. Entre as equipes convidadas estava a seleção da Romênia, na qual Lucescu, na época com 25 anos, era o capitão.

– Antes deste torneio, fizemos uma preparação e nossa equipe disputou amistosos do norte até o sul do país em cidades como Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e outras tantas, que agora não me recordo. Desde então, tenho esse grande carinho e amor pelo Brasil, pelo futebol brasileiro, pelo samba, por todos esse povo – lembrou.

Na Copa do México, a Romênia caiu no grupo do Brasil e foi derrotada por 3 a 2 por Pelé & cia. Nove anos após o Mundial, Lucescu começava a vida como treinador. O início foi no Corvinul Hunedoara, time da capital Deva. Posteriormente, também acumulou passagens por clubes como Dínamo Bucareste, Pisa, Brescia, Reggina, Rapid Bucareste e Galatasaray. Mas dois clubes em especial estão na memória do técnico, de 66 anos, onde comandou pela primeira vez jogadores brasileiros.

Mircea Lucescu, técnico do Shaktar (Foto: Divulgação)Lucescu trabalhando na comissão técnica do Dínamo
Bucareste no título nacional de 75 (Foto: Divulgação)

– Tive o prazer de treinar dois grandes jogadores: o Antônio Carlos (o Zago) no Besiktas, em 2002, e o Ronaldo Fenômeno no Inter de Milão, em 1998. Boas lembranças! Bom... hoje, estou no Shakhtar e estou muito feliz – contou.

A grandeza do Shakhtar Donetsk, que havia vencido apenas seis copas nacionais até o início da década, é mais recente. As chegadas de Rinat Akhmetov, o homem mais rico da Ucrânia, à presidência e Lucescu ao cargo de treinador coincidem totalmente com a ascensão da equipe.

Ao assumir o posto, Akhmetov resolveu mudar a mentalidade do clube e contratou o técnico na temporada 2004. No contrato, o romeno fez um pedido especial: formar uma legião de atletas brasileiros. A missão parecia impossível para o momento, mas se transformaria em realidade alguns anos depois e levaria o time a um patamar de reconhecimento internacional nunca antes alcançado por um time do país em tão pouco tempo.

– Montei esse grupo de jogadores e posso dizer que treiná-los é algo muito especial. Tenho com eles quase uma relação de pai e filho. Os brasileiros são fantásticos. Para se ter uma idéia, em 2004, quando isso tudo começou, levavamos em torno de 25 mil torcedores ao estádio. Com esse grupo de brasileiros no time, temos em cada jogo uma média 50 mil torcedores frequentando a Donbass Arena. É algo incrível! – disse.

Investir em atletas provenientes do país “dono do melhor futebol do mundo” é desejo pessoal de Mircea Lucescu, resumindo-se a contratação de jovens talentos. De acordo com mentalidade estratégica do clube, que avalia os jogadores europeus, os ucranianos são melhores defensores, como, por exemplo, o capitão do time Darjo Srna. Por isso o time trabalha diretamente com a captação de jogadores sul-americanos, em especial os brasileiros, para ocupar as funções de meias ou atacantes.

O sucesso da legião brasileira no time montado por Lucescu tem servido de modelo para outros clubes do país, que, assim como o time laranja e preto, também contratam brasucas para dar à equipe um estilo de jogo que seja atraente para os torcedores.

– Comigo tenho jogadores de Seleção Brasileira como o Jadson, William e o Fernandinho. E outras gratas revelações e talentos como o Luiz Adriano e o Dentinho, atletas espetaculares, com um grande potencial e espero vê-los um dia na canarinho também. Torço muito por todos – falou.

Mircea Lucescu, técnico do Shaktar (Foto: Divulgação)Comissão técnica e grupo de jogadores do Shakhtar posam para foto oficial no site clube (Foto: Divulgação)

O primeiro a desembarcar no clube do leste europeu foi o atacante Brandão, que chegou ao país em 2002 e abriu as portas para nomes que hoje formam o reduto verde-amarelo no clube: Jadson, Fernandinho, William, Douglas Costa, Luiz Adriano, Alex Teixeira, Bruno Renan, Alan Patrick, Dentinho e Eduardo da Silva, que é naturalizado croata (há ainda o boliviano Marcelo Moreno, ex-Cruzeiro e com passagem por Seleção Brasileira de base).

Fã dos brasucas, o treinador passou a direcionar parte de seu trabalho ao aprendizado da língua tupiniquim para estabelecer uma boa relação com os jogadores. Jadson, o mais antigo dos brasileiros do atual elenco, destaca o bom relacionamento profissional que tem com o técnico, reconhecido carinhosamente pelos jogadores como “Mister”.

– No início, o “mister” falava um portunhol, mas hoje já fala muito bem. Foi até engraçado. Quando cheguei aqui e descobri que ele ia usar o português para falar comigo, até agradeci a Deus. Porque é aquilo, eu estava chegando em um país novo, não sabia nada de inglês, muito menos de russo. Então ia ser complicado. O "mister" é uma ótima pessoa. Nos treinamentos, ele gosta de cobrar bastante, até o nosso limite – afirmou o camisa 8 do Shakhtar Donetsk.

Com muito dinheiro em caixa, o Shakhtar também se dá ao luxo de atualmente buscar jovens talentos brasileiros para suas categorias de base: William e Ítalo, de 15 anos, saíram do Corinthians de Alagoas para a Ucrânia e foram escolhidos a dedo por Lucescu.

Fruto dos constantes investimentos, a equipe aos poucos alcança bons resultados e cresce a cada ano. Em 2009, por exemplo, o clube ucraniano conquistou a Copa da Uefa (atual Liga Europa) e, na temporada 2010/2011, conseguiu alcançar as quartas de final da Liga dos Campeões pela primeira vez em sua história. Atual bicampeão ucraniano, os mineiros chegam forte em busca do tri nesta temporada.

Tem muito jogador que torce o nariz quando o assunto é jogar na Ucrânia. As razões principais são o frio e a falta de visibilidade para aspirar a um lugar na Seleção. No entanto, a ascensão do Shakhtar nos últimos anos tem ajudado a mudar este quadro e, segundo Lucescu, o objetivo atual é fazer um bom papel na Liga dos Campeões nesta temporada.

No entanto, a fase do time na edição atual da competição não é nada boa: com apenas dois pontos conquistados, soma dois empates, duas derrotas, nenhuma vitória e ocupa a última colocação do Grupo G, precisando vencer a partida desta quarta-feira se quiser se manter vivo no torneio.

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