Hadouken! Damião, o lutador da área, tem mais gols do que jogos em 2011
Maior destaque do Inter em 2011, centroavante empilha gols, chega à Seleção e inova nas comemorações. Teve até Street Fighter...
Leandro Damião ganhou de Rodolfo no corpo, recebeu a bola, desviou de Marcelo Grohe e viu um surto de euforia tomar conta de suas veias quando notou que tinha feito um gol no Gre-Nal de domingo. Do nada, o cérebro do centroavante mandou uma mensagem de como ele deveria comemorar. O camisa 9 foi para trás do gol, preparou os braços e... Hadouken! Sem ele mesmo esperar, Damião imitara no gramado do Beira-Rio o golpe mais famoso do Steet Fighter, jogo de videogame clássico há pelo menos duas décadas. Foi apenas mais uma celebração criativa de um jogador que vem quebrando a cabeça para encontrar formas diferentes de festejar os gols que marca. É que são muitos. Em 2011, Damião tem mais gols do que jogos pelo Inter.
Ao contrário de Ryu e Ken, os lutadores que usam o Hadouken no Street Fighter, o poder de Leandro Damião sai dos pés ou da cabeça para formar números que impressionam. Na atual temporada, a primeira como titular do Inter, ele marcou 19 gols em 18 jogos. É o artilheiro do time no Gauchão (15 gols em 11 partidas) e na Libertadores (fez quatro em sete duelos). Aos 21 anos, sem categorias de base, convencido há apenas quatro temporadas de que deveria virar jogador de futebol, já tem passagem pela Seleção Brasileira. É o grande nome do Beira-Rio em 2011.
O gol no clássico só comprovou a boa fase do centroavante. Foi seu primeiro Gre-Nal como titular – no ano passado, jogara por apenas cinco minutos no empate por 2 a 2 no Olímpico, pelo Brasileirão. A comemoração, sem ele perceber, nasceu na noite anterior, quando ele jogava videogame com o lateral-direito Nei na concentração.
- Foi no momento. Na concentração, eu estava jogando contra o Nei. No momento, ali, deu vontade de fazer, porque tinha saído o gol. Mas não foi nada direcionado ao Grêmio. Eu só pensei em fazer uma comemoração criativa, e acabei tirando do Street Fighter. Isso faz parte, né? Tenho que ficar criando essas modas – se diverte o jogador ao lembrar da cena.
As comemorações viraram uma marca de Damião. Começaram com o tradicional bigodão de seu Natalino, o pai dele. Mas também teve moto para o irmão e até uma provocação ao Grêmio, com a contagem dos polêmicos oito minutos de acréscimo na final do primeiro turno do Gauchão, entre o rival colorado e o Caxias.
- Eu gosto de fazer. Acho que é bom ser lembrado por coisas boas, alegres, não por coisas ruins. E as comemorações são assim.
O lutador da grande área
Leandro Damião não veste quimono, não é personagem de videogame, não tem alguma missão impossível para cumprir, comandado por joysticks. Mas ele também se considera um lutador. E o ringue dele é a grande área. Sempre que perguntado sobre seus pontos fortes, o jogador não diz que tem faro de gol, não afirma que é craque, não garante ser diferenciado. O discurso é outro.
- Eu brigo muito ali na frente. Não sou jogador de ficar esperando a bola chegar. Sempre brigo pela bola. É por isso que as coisas estão acontecendo do jeito que eu quero – diz ele.
- Nunca briguei por gol. Eu sempre briguei para ajudar a equipe – acrescenta.
- Desde criança, eu sempre marcava gols. Sempre foi meu jeito, porque eu sempre brigava. Tinha hora em que a bola batia em mim e entrava, porque eu estava disputando com a zagueiro, trombando com o goleiro. Sempre brigando – completa.
Na base da briga, Damião comemora as conquistas de 2011. Até o início do ano passado, ele era um jogador desconhecido. Depois de uma temporada inteira na reserva, ganhou a chance. E soube aproveitá-la.
- O ano passado foi uma grande experiência para mim. Joguei jogos pelo Brasileiro, pela Libertadores, incluindo a final, e até no Mundial. Foram momentos em que aprendi bastante. Eu me preparei ao máximo na pré-temporada, aprimorando os fundamentos. Esse ano tem sido muito abençoado.
Seleção Brasileira e futuro no Inter
A reboque do bom desempenho, veio a convocação para a Seleção Brasileira e a camisa 9, de titular, no amistoso contra a Escócia. O jogador não marcou gols, mas mandou bola no travessão e teve o desempenho muito mais elogiado do que criticado. A esperança de Damião é de que tenha sido a primeira de muitas passagens pela equipe nacional.
- Fiz um bom papel. Não acho que tenha ido mal. Espero dar continuidade nesse papel e voltar para a Seleção. Mas primeiro tenho que fazer meu trabalho no Inter, melhorando os fundamentos, para continuar fazendo gols, dando passes. Vou torcer para estar em novas convocações. Todo mundo sonha. Eu tive a oportunidade de ir. É uma emoção que não tem como descrever. Vou procurar fazer o máximo para ir bem no Inter. Penso primeiro no Inter e depois na Seleção.
O Inter já se prepara. Sabe que receberá propostas pelo jogador. E que elas serão gordas. Damião, por enquanto, não quer muito papo sobre uma possível transferência. Prefere viver o agora para ter a garantia de um bom amanhã.
- Eu vivo o momento. Não consigo pensar no futuro, em jogar na Europa, em estar sempre na Seleção. Sempre penso no momento. Se não aproveitar o momento, não vou conseguir nada lá na frente. Meu pensamento é só o Inter.
Percalços e persistência
Leandro Damião teve percalços até virar goleador no Inter. Foi reprovado em testes, foi olhado com maus olhos por não ter feito categorias de base. Um belo dia, resolveu sair de casa, em São Paulo, para tentar a vida no Sul. E decidiu que não voltaria para lá sem ser um jogador profissional de futebol.
- Eu não tive base. Quando um jogador tem base, é diferente, tem domínio de bola. Eu não tinha nada disso. Eu tinha que fazer por mim mesmo. Ninguém ia fazer por mim. Desde que saí de casa, nunca pensei em voltar para lá do mesmo jeito que saí. Muita gente me falou que eu não estava pronto, que não conseguiria. Vai da cabeça do jogador. Felizmente, isso não aconteceu comigo.
O futebol foi entrando aos poucos na vida do jogador. Antes de ser a profissão dele, era uma diversão. Era o ingresso para o cinema...
- Eu jogava só de brincadeira. Há quatro anos, era só na brincadeira, para pegar um dinheirinho pro final da semana, para levar a namorada no cinema. Eu não sonhava com isso. Claro, quando começa a jogar, todo mundo quer virar jogador, mas eu não ficava fixo nisso. Há uns quatro anos, comecei a focar mais.
Mais uma noite de decisão
Damião volta a campo pelo Inter na noite desta quarta-feira. Às 19h30m, o time colorado recebe o Peñarol. Vale vaga nas quartas de final da Libertadores. Se tudo der certo, o camisa 9 espera ter mais uma comemoração para apresentar. Qual? Aí é preciso esperar...
- Vou ver na hora. Não posso pensar na comemoração antes do gol. Para ter comemoração, tem que ter gol.
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