Olimpiadas 2016

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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Londres 2012

10/08/2012 20h52 - Atualizado em 10/08/2012 22h13

Londres, dia 14: de Santos Dumont aos irmãos Falcão, o negócio é voar

Esquiva Falcão vira primeiro brasileiro em uma final olímpica no boxe e faz pai dele, Touro Moreno, compará-lo ao criador da aviação. Irmão é bronze

Por Alexandre AlliattiRio de Janeiro

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Touro Moreno, quando fica parado, deixa os braços em posição de pêndulo, suspensos, afastados do corpo, como se eles ainda estivessem suportando o peso das luvas. Quando gesticula, o faz com as mãos quase na altura do rosto, como se ainda precisasse defender a face, marcada por seus 75 anos, de golpes adversários. Está preso aos ringues – preso ao passado. Mas é quando vê os filhos, Esquiva e Yamaguchi Falcão, que ele volta definitivamente no tempo. Parece que vai nocautear a pobre da televisão. Golpeia junto: um jab, um direto, um cruzado, um gancho. É um paradoxo do espaço: em Serra, no Espírito Santo, ele vence uma luta em Londres. Vai para uma final olímpica. E perde a outra. Assegura um bronze. Touro Moreno é ex-boxeador. E é pai de boxeadores. É pai deEsquiva, o primeiro brasileiro a disputar uma decisão de ouro em Olimpíadas no boxe. E é pai de Yamaguchi, medalha de bronze nesta sexta-feira.

Esquiva Falcão na luta de boxe contra Anthony Ogogo (Foto: Getty Images)Esquiva Falcão faz o T, de Touro, para o pai após vitória sobre britânico (Foto: Getty Images)

O 14º dia olímpico foi marcante para o Brasil por causa dos descendentes dos Falcão. Esquiva fez história. E fez o pai dele chorar. No centro de uma casa simples, de paredes mofadas, Touro resumiu a simplicidade da família, mergulhada em orgulho, com uma frase:

- Estou conseguindo algo inédito. É a mesma invenção de Santos Dumont. (Veja a entrevista dele ao SporTV no vídeo acima)

Yamaguchi Falcao Florentino, Brasil, Boxe, Medalha Bronze (Foto: Agência Reuters)Yamaguchi Falcão fica com o bronze depois de
perder para russo (Foto: Agência Reuters)

Em 1901, Santos Dumont sobrevoou a Torre Eiffel, em Paris, a bordo de um dirigível. É considerado o pai da aviação por causa disso. Cento e onze anos depois, perto dali, em Londres, Esquiva foi um falcão que voou alto. Venceu o britânico Anthony Ogogo por 16 a 9 nas semifinais do peso-médio e bateu asas até a final - que será contra o japonês Ryota Murata, vice-campeão mundial, neste sábado, a partir de 17h45m.

Horas depois, seu irmão, Yamaguchi, foi derrotado pelo russo Egor Mekhontcev, por 23 a 11, nos meio-pesados. Ficou com a medalha de bronze, a única do Brasil no dia. Mas uma outra, de cor diferente, já é certa. Com atuação impecável, a seleção masculina de vôlei fez 3 sets a 0 na Itália e avançou à final do torneio. Vai enfrentar a Rússia no domingo para ser ouro ou prata.

Esquiva! Esquiva!

Esquiva Falcão na luta de boxe contra Anthony Ogogo (Foto: Reuters)Na lona: Anthony Ogogo cai duas vezes na luta
com Esquiva Falcão (Foto: Reuters)

Se a evolução genética permitisse, os filhos de Touro Moreno já nasceriam vestindo luvas. Esquiva Falcão ser boxeador e se chamar Esquiva não é uma coincidência. Quando ele nasceu, o pai decidiu dar esse nome a ele para enrolar os árbitros – tinha certeza de que aquele bebê seguiria sua linhagem no esporte. Como é proibido ficar gritando ordens aos atletas enquanto ocorre a luta, Touro resolveu nomear o filho com uma das ordens mais habituais. Quando precisasse indicar que o pupilo se esquivasse dos golpes, bastaria gritar o nome dele: “Esquiva! Esquiva!”. O juiz não teria argumentos...

Esquiva sabe se esquivar. E, mais do que tudo, sabe bater. O britânico tinha a torcida a seu favor. Inútil: foi ao chão duas vezes. A vitória era do brasileiro. A vaga era dele. O ineditismo era dele. Encerrada a luta, ele usou os braços que maltrataram o adversário para fazer um sinal. Um T. De Touro.

Esquiva Falcão, Touro Moreno e Yamaguchi Falcão, boxeadores capixabas (Foto: Bruno Marques/Globoesporte.com)Esquiva Falcão, Touro Moreno e Yamaguchi Falcão: dificuldades faziam Papai Noel levar a culpa por atraso na casa da família de boxeadores (Foto: Bruno Marques/Globoesporte.com)

O finalista é um dos 18 filhos de Touro Moreno, lenda do boxe, MMA e telecatch brasileiros. Tem 22 anos, dois a menos que Yamaguchi. Entre seus irmãos, outros já lutam - casos de Estivan, de 16 anos, e Thomaz Edson, de 20. Luciano, de 13, também seguirá o caminho, se depender do desejo de uma família que já é medalhista olímpica.

A de Esquiva será a segunda. A primeira é de Yamaguchi, outro de nome pouco habitual – homenagem a um treinador de origem oriental de Touro. Ele viveu processo inverso ao do irmão. Foi dominado pelo russo. Perdeu por um placar amplo. Mas aqui cabe uma ressalva: ele foi para a categoria meio-pesado justamente para não concorrer com o irmão mais novo. Resultado: ambos voltarão ao Brasil com medalhas no peito.

É a honra máxima para uma família que chegou a passar fome e ser despejada de casa. Touro, quando os filhos eram crianças, dizia a eles que o Papai Noel estava atrasado, que viria depois – porque não tinha dinheiro para comprar presentes. Ainda hoje, o telefone da casa é um orelhão público, localizado poucos metros além do pátio onde os Falcão começaram a brincar de boxe.

Na final

Lucão e Murilo, Vôlei, Brasil x Itália (Foto: Agência Reuters)Lucão e Murilo param ataque da Itália em vitória de
3 a 0 do Brasil em Londres (Foto: Agência Reuters)

A Itália deu sinais de que seria um paralelepípedo pontiagudo no caminho do vôlei masculino do Brasil até a decisão. Afinal, tinha feito assombrosos 3 sets a 0 nos Estados Unidos. Mas foi alarme falso. A equipe de Bernardinho passeou.

A exemplo da vitória sobre a Argentina, nas quartas de final, os brasileiros não cederam um set sequer ao adversário. As parciais mostram o que foi o jogo: 25/21, 25/12 e 25/21. O placar do segundo set não é erro de digitação: foi 25/12 mesmo. Murilo foi o maior pontuador, com 15 pontos.

Agora, a preocupação é com a Rússia. A vitória dela foi sobre a Bulgária, mas um pouco menos tranquila do que a do Brasil: 3 sets a 1, parciais de 25/21, 25/15, 23/25 e 25/23.

Vale um alerta: Maxim Mikahylov, o principal jogador russo, é de meter medo. Ele fez 25 pontos contra os búlgaros.

Demais brasileiros

Foi um dia de competição em equipe para o Brasil no atletismo. Os atletas verde-amarelos se concentraram nas provas de 4x100m – masculino e feminino. As mulheres, na final, ficaram com a sétima colocação. E usaram palavras fortes para comentar o desempenho.

- A gente tem que ser profissional, tem que ser madura. Quando a gente perde, é o time todo que perde. A culpa não é de A ou B, a derrota é de todas. Não dá para ficar querendo apontar os erros dos outros – disse Evelyn dos Santos, que competiu ao lado de Ana Cláudia Lemos, Rosângela Santos e Franciela Krasucki.

Os homens, na mesma prova, pararam nas eliminatórias. Aldemir Gomes, Sandro Viana, Nilson André e Bruno Lins ficaram com a décima colocação. Os Estados Unidos tiveram o quarteto mais rápido do dia, seguidos pela Jamaica, que se permitiu o luxo de poupar Usain Bolt.

Na vela, Fernanda Oliveira e Ana Barbachan não conseguiram o pódio. Elas terminaram em sétimo na medal race da classe 470 e, assim, encerraram sua participação nos Jogos com a sexta colocação.

Em outras águas, na canoagem, Ronílson Oliveira ficou sem chances de medalha. Ele foi para a final B na categoria C1 200m.

O dia também não foi bom nos saltos ornamentais. Hugo Parisi não conseguiu vaga nas semifinais da plataforma de 10m. Foi o antepenúltimo colocado na primeira fase da disputa.

Mas quem realmente se deu mal foi Squel Stein. A brasileira caiu nesta sexta-feira durante uma prova do ciclismo BMX em Londres, precisou ser retirada de maca e foi levada para o hospital. Ela está em observação, mas passa bem. A atleta já havia sofrido um acidente no Pan-Americano de Guadalajara, no ano passado.

Squel Stein sofre acidente na prova do BMX (Foto: Getty Images)Squel Stein sofre acidente na prova do BMX e vai de maca para hospital (Foto: Getty Images)

Consagração para Bahamas

Bahamas, Atletismo, Ouro,  4x400m (Foto: Agência Reuters)Atletas de Bahamas festejam ouro nos 4x400m
(Foto: Agência Reuters)

A sexta-feira foi histórica para o atletismo de Bahamas. O país caribenho foi o vencedor dos 4x400m, superando os Estados Unidos. Com isso, foi quebrada uma hegemonia que durava desde as Olimpíadas de Helsinque, em 1952. A prova teve a última participação em Londres de Oscar Pistorius, o atleta sul-africano que corre com próteses – é o primeiro biamputado a disputar uma edição das Olimpíadas. Sua equipe ficou em nono.

Destaque também, no atletismo, para as americanas nos 4x100m. Tianna Madison, Allyson Felix, Bianca Knight e Carmelita Jeter baixaram em quase meio segundo o recorde mundial, que agora é de 40s82. A Jamaica ficou com a prata, e o bronze foi para a Ucrânia. Nos 5.000m, a vitória foi de uma etíope, Meseret Defar. Encerrada a prova, ela comemorou com uma imagem de Nossa Senhora.

Meseret Defar, Atletismo (Foto: Agência AFP)Meseret Defar comemora com imagem de santa a conquista dos 5.00m (Foto: Agência AFP)

No basquete masculino, está definida a final. Os Estados Unidos venceram a Argentina por 109 a 83 nas semifinais. A decisão será contra a Espanha, que bateu a Rússia na outra semifinal por 67 a 59.

Derrota para os argentinos também no hóquei sobre a grama. Em um jogo de derrubar o queixo pela beleza das mulheres, a Holanda bateu as sul-americanas por 2 a 0 e ficou com o ouro.

Holanda, Hoquei, Comemoração, Pódio (Foto: Agência Reuters)De encher os olhos: holandesas são campeãs no hóquei sobre grama (Foto: Agência Reuters)

Mas a Argentina não fechou o dia de mãos vazias. No taekwondo, Sebastian Crismanich derrotou o espanhol Nicolas Garcia Hemme, por 1 a 0, e venceu a categoria até 80kg masculina. Foi o primeiro ouro dos hermanos em Londres. O Brasil (só para constar) tem dois.

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